ABEL RIBEIRO
O senhor Abel nasceu em 1940 na aldeia de Sacões, na Teixeira. Oriundo de uma família humilde, o trabalho na agricultura foi implantado na sua vida desde muito jovem.
Com onze anos começou a trabalhar como carteiro. Diariamente percorria cerca de trinta quilómetros a pé, entre Mesão Frio e as aldeias em que estava encarregue de entregar o correio. Passados três anos começou a trabalhar no Douro, inicialmente apenas nas vindimas e mais tarde permanentemente.
Em fevereiro de 1961 iniciou-se a Guerra Colonial e ele foi convocado para se apresentar no Regimento de Infantaria 6, no Porto. Após quatro meses em treinamento foi enviado para o norte de Angola onde permaneceu vinte e sete meses. O medo do que poderia acontecer em combate, aumentou quando foi para a linha da frente com uma espingarda antiquada que não os favorecia, posteriormente, esta foi substituída por uma metralhadora. Durante este longo período de sofrimento, em que as condições eram desumanas, perderam-se demasiadas vidas e almas.
Uns meses depois de regressar, surgiu a oportunidade de ir trabalhar para o estrangeiro. Ele e dois vizinhos juntaram-se a um passador para entrar clandestinamente em Espanha. Nessa noite, após chegarem à fronteira, deparam-se quando um carabineiro de arma em riste, na berma da única ponte que permitia a travessia. Sossegadamente lá tentaram passar, mas quando foram impedidos desataram a correr. Como o senhor Abel seguia na frente, o guarda pensou que era o passador, tentou-o agarrar e disparou para o ar, porém, “percebi que ele não me queria acertar, conseguimos fugir e chegar até às Astúrias”.
Depois de alguns anos no estrangeiro, divididos entre Espanha, França e Alemanha, decidiu voltar para ajudar a esposa na lavoura, da qual governaram vida. As dificuldades que ultrapassou, tornaram o senhor Abel um exemplo para os mais novos aos quais aconselha a nunca procurar a guerra, pois só com a paz conseguiremos ser felizes.