ANA CORREIA
A dona Ana nasceu em 1947 na aldeia de Sacões, na Teixeira. Ao longo da sua vida passou por várias dificuldades, desde o esforço do trabalho no campo até à amargura de perdas familiares, contudo mantém-se firme com o apoio da família.
As características que mais se destacam nela é ser boa ouvinte e literata, sabe quase todas as histórias que os antigos lhe contavam, mas também se dedicou a assimilar mais conhecimentos através dos livros.
A maioria dos relatos eram contados pelo seu avô, o senhor Augusto da Mestra, um dos poucos que sabia ler e escrever naquela época, daí a alcunha. Recorda com especial carinho uma história que ocorreu há mais de cento e vinte anos. “O meu avô era caseiro numa propriedade na aldeia da Ordem, semanalmente havia noites em que a água da prefia, de uso comunitário, era destinada para os terrenos do patrão dele. Certo dia, por volta da meia-noite ele foi seguido desde o campo até casa por uma misteriosa luz que se manteve sempre a escassos metros dele. Ele acreditava que aquilo seguia-o para afastar o mal que dominava aquele caminho.”
Teixeira, a 17 de julho de 1514 recebeu o foral de D. Manuel, tornou-se vila e sede de concelho até 1836. Como forma de assinalar esse reconhecimento ergue-se um pelourinho, no século XVI, onde a partir de então tiveram lugar os julgamentos e as execuções. Contudo, a dona Ana sabe de histórias centenárias que indicam que os criminosos já vinham mortos até lá. “No Rechão de Cerdeira havia umas argolas num penedo para as pessoas serem subjugadas, eram mortas praticamente ali e só depois trazidas para o pelourinho, onde ficavam três dias. Quem lá passasse tinha de cuspir no preso, com a consequência de ter o mesmo desfecho quem não o fizesse.”
A geração da dona Ana vai desaparecendo aos poucos, juntamente com estas histórias que se perderão para a eternidade, caso as novas gerações não demonstrem interesse em conhecê-las. “Ó Teixeira quem tu eras há coisa de 30 anos, agora estás derrotada de calotes e enganos.”