DULCE CARVALHO

A dona Dulce, nascida na freguesia de Teixeira, recorda com grande carinho a sua infância "tive uma infância feliz, não havia telemóvel nem televisão, mas havia o aconchego à noite na lareira com as pessoas mais velhas que nos contavam histórias, na escola havia alegria a jogar às escondidinhas e à macaca".

Todos os dias a aldeia esperava desesperadamente pelas cartas trazidas pela senhora Zulmira, que diariamente entregava e levava o correio a Mesão Frio. Na altura, grande parte dos homens tinham sido enviados para a guerra, ou então fugido para o Brasil, e as famílias apavoradas aguardavam incessantemente noticias deles, que vinham em cartas. Como grande parte da população não sabia ler nem escrever, recorriam a Dulce para o fazer no final das aulas. Durante anos leu e escreveu muitas cartas para filhos, maridos e namorados das suas conterrâneas que estavam na guerra.

Viu-se obrigada a abandonar a escola por falta de possibilidades. Após acabar a quarta classe ficou um ano na costura, algo que já tinha experimentado na escola. Porém, surgiu a oportunidade de voltar para concluir a quinta e sexta classe, com a autorização da sua mãe assim o fez.

Com 17 anos, foi tirar um curso de costura para a cidade do Porto até regressar à Teixeira para trabalhar como costureira. Passados uns anos, já com 23 anos e após perder a sua mãe, regressou ao Porto onde voltou a tirar um curso de costura e por lá ficou a trabalhar durante vinte anos. Durante esses anos teve a oportunidade de fazer aquilo que a fazia feliz, criar vestidos para eventos, "quando fazia os vestidos para a Queima das Fitas, ficava muito contente porque gostava de ver as pessoas felizes com a roupa que eu fazia".

Devido a problemas de saúde que a impediam de trabalhar, decidiu voltar para a Teixeira, pois, "já não fazia sentido ficar lá, além disso, não gostava da cidade, mas gostava do trabalho".

Na sua vida procura sempre ajudar o próximo e vê-lo feliz, principalmente os jovens, como prova o seu passado e presente como catequista.