DULCE PEREIRA
A dona Dulce, nasceu em 1950 em Vilarelho, uma aldeia da freguesia da Teixeira. Cresceu numa casa humilde juntamente com os seus pais e cinco irmãos mais velhos. Passaram muitas dificuldades, o dinheiro era escasso e o que plantavam nem sempre dava para saciar a fome.
Desde jovem que começou a cultivar os campos e a cuidar dos animais, tinha rebanhos de ovelhas e cabras, mas também, manadas de vacas e touros, criados unicamente para as touradas. Na época, os aldeões organizavam-se para diariamente um deles ir pastorear o gado de todos até à serra, chamavam-lhe a vigia. Na sua vez ela aproveitava esse tempo para fazer meias que oferecia aos irmãos, porém, por vezes perdia momentaneamente de vista os animais e entregava-se ao choro do desespero. Após concluir a quarta classe, ainda chegou a ir trabalhar uma vez para o Douro, porém, “o trabalho que o meu pai me confiava chegava bem”.
Com vinte anos casou-se e mudou-se para a aldeia de Sacões, onde vive desde então. Aqui, para além do trabalho na agricultura teve de cuidar da sogra gravemente doente. Há cerca de dezoito anos o seu marido, Acácio, após regressar do estrangeiro foi diagnosticado com a mesma doença da mãe, Huntington's Chorea. Esta doença hereditária rara, causa a degradação progressiva das células nervosas do cérebro, provocando distúrbios motores, cognitivos e psiquiátricos. Os medicamentos apenas ajudam a controlar os sintomas, mas não podem prevenir o desgaste físico, mental e comportamental.
Tem sido uma batalha injusta e desgastante para ambos. Entre as dificuldades do passado e do presente, a dona Dulce não tem dúvidas, “eu antes queria andar o dia todo sem comer e a trabalhar duro no campo, em vez de ver o meu marido sofrer, é um desgosto enorme, mas enquanto eu puder vou cuidar dele”.