GRAÇA PEREIRA

A dona Graça nasceu em 1960, na aldeia de Sacões em Teixeira. Sendo a mais velha de oito irmãos, as responsabilidades foram excessivas e consequentemente a sua infância tornou-se complicada. Com apenas quatro anos de idade começou a cuidar dos irmãos enquanto os pais trabalhavam no campo, aos sete, já cozinhava para a família e trabalhadores que rogavam para os ajudar.

Casou aos dezoito anos, porém, após doze anos juntos, ela e as duas filhas foram abandonadas. Decidiu ir trabalhar para as quintas do Douro para as conseguir alimentar, com a ajuda dos pais as dificuldades foram desaparecendo.

Foi trabalhar para o Porto cerca de dezasseis anos. Em 2017, após a sua mãe partir o fêmur, voltou para cuidar dos pais, Augusta e Manuel, "tinha lá a minha vida estabilizada, mas tinha de cuidar deles, tal como eles cuidaram de mim quando mais precisei".

Após esse incidente, a dona Augusta foi internada em três instituições, no espaço de um ano, porém, não houve muito de bom a dizer delas. A falta de interesse nos utentes era notória e dessas más experiências ficou a certeza de que os lares e instituições não seriam opção para os pais. Os graves problemas na coluna, a osteoporose, a diabetes e o Parkinson impossibilitam a sua mãe de sair de casa desde há dois anos, tendo acompanhamento médico ao domicílio.

Em agosto de 2021, o tio Manuel começou a queixar-se do estômago, após uns exames foi necessário ser operado. Sem grande sucesso, de mês para mês cada vez ficava mais magro e sem forças, tendo que ser internado no princípio de junho deste ano, a última vez que a filha o viu fisicamente. Um mês depois, no dia em que ia ter alta, morreu.

"Foi uma fase muito dura, o pior ano da minha vida. Eu se morrer de repente, só quando sentirem a minha falta é que me vão procurar, ela não consegue sair da cama, nem sequer pegar em algo para pedir ajuda. Mas aguentarei os anos que foram precisos pela minha mãe."

Graça Pereira
Graça Pereira