OTÍLIA CIPRIANO
A dona Otília é uma das poucas pessoas que resistem à vida dura e solitária na aldeia de Mafômedes, onde as cabeças de gado são cinco vezes mais do que as pessoas. Ocupa os seus dias a cuidar da sua horta e de um pequeno rebanho de ovelhas.
Na aldeia mais isolada do distrito do Porto, as rotinas são semelhantes ao longo das últimas décadas, a agricultura e a pastorícia continuam a ser as principais práticas. Em contraste às restantes aldeias da freguesia de Teixeira, os campos estão granjeados ou a servir de pasto para os animais, há de tudo um pouco: cabras; vacas; porcos; ovelhas; galinhas.
Aqui, por vezes a informação demora a chegar, longe do centro da freguesia e com uma instável rede telefónica, quem cá vive fica surpreendido com o que sabem passado algum tempo, como é o caso dos funerais, "já estão debaixo da terra há oito dias quando a gente sabe", disse a dona Otília.
Longe de tudo, os habitantes da aldeia raramente vão até à vila principal do concelho. As deslocações são asseguradas por um táxi que os leva até à paragem de autocarro mais próxima, a cerca de três quilómetros. Atualmente, o município assegurou um carro que os leva diretamente à vila, a um preço bem mais acessível.
Leandro, neto da dona Otília, é a única criança de Mafômedes. Sente mais do que ninguém a dureza de viver isolado na serra. Longe dos amigos, apenas pode estar com eles na escola ou na catequese. Graças a uma carrinha de transporte escolar, o jovem pode diariamente ir à escola.
A aldeia mais isolada do distrito é também a mais conhecida de Baião e os seus habitantes gostam do rebuliço que semanalmente preenche o vazio das estreitas ruas de Mafômedes.